terça-feira, 8 de maio de 2012

Uma nova área de risco?

    Ávidos em dar uma resposta política aos desabrigados, nem que seja em forma de promessa, a prefeitura de Teresópolis e o governo do Estado podem estar cometendo um grande equívoco e que cabe à sociedade organizada discutir, e acompanhar, para que cuidados sejam tomados com relação à ocupação desta área. A Fazenda Ermitage é uma bacia com a permeabilidade já comprometida, sendo as suas águas responsáveis pelo alagamento da rua Manoel José Lebrão quando das chuvas fortes em Teresópolis.
Aumentando a impermeabilidade desta bacia, um charco que absorve a umidade dos morros próximos, teremos alagamentos ainda maiores nos bairros Ermitage e Tijuca, que já sofrem com as enchentes quando chove um pouco mais forte.
     Outro problema da criação de um bairro populoso na bacia da Ermitage é a necessária infra-estrutura, nunca equivalente a que existe nas localidades atingidas, sem contar a questão cultural dos novos moradores, oriundos de bairros diferentes, com necessidades e costumes específicos. A Cidade de Deus e a Favela da Maré, no Rio de Janeiro, são exemplos disso e, em Teresópolis, temos o Matadouro e a Fazenda Fonte Santa que não agradaram os moradores que para lá foram enviados. Todos sabemos que as casas populares do Matadouro não foram habitadas porque não existiam em seu entorno os costumes e os hábitos que os moradores contavam nas suas antigas comunidades. “Há também que se preocupar com as raízes desses lugares atingidos. Desde a padaria próxima, a escola, a creche, a igreja, até o botequim onde se assiste o jogo dos domingos, tudo isso faz parte dos costumes e da cultura local destes desalojados. Sem contar que as pessoas dessas comunidades não têm grande facilidade de adaptação. Elas vivem, literalmente, em comunidade, se ajudando e se inteirando dos problemas do lugar, que também são motivos de aproximação. É um crime amontoar essas gentes, de tantos lugares diferentes, num mesmo ponto, onde a ocupação do território facilita a ação dos aventureiros, até mesmo a proliferação das drogas”, observei outro dia num bate papo sobre o assunto na rede social Facebook. “A irresponsabilidade de transferir para um bolsão de casas os desabrigados de tantos lugares diferentes é tamanha que não se cogita, por exemplo, de arranjar espaços no interior para construir casas para quem perdeu suas residências. Na conta da prefeitura o agricultor, dono da terra ou meeiro, de Vieira ou Pessegueiros, por exemplo, vai ganhar casa na Ermitage. O desequilíbrio social e econômico que esse deslocamento vai provocar é enorme”.

     ESTADO NÃO QUER PAGAR O QUE A ÁREA VALERIA
     Na semana passada, a justiça bateu o martelo e deu a imissão de posse ao governo do Estado na Fazenda Ermitage, estabelecendo o valor de R$ 13 milhões para a compra do imóvel. A notícia foi divulgada na edição seguinte do DIÁRIO, dando esperança aos que estão com os nomes inscritos para receber as moradias devidas pelo Estado desde o ano passado.
     Mas, como era bom demais pra ser verdade, o Estado disse que "vai recorrer" da decisão. Não que não queira mais a área, é que o governador Sérgio Cabral achou caro o preço estabelecido para a propriedade e quer pagar apenas R$ 2 milhões na Fazenda, que foi avaliada pelo proprietário em R$ 31 milhões.
     Pra quem não lembra, a Fazenda Ermitage foi desapropriada pelo ex-prefeito Jorge Mario em janeiro de 2011 e a briga pela sua posse vem desde essa data. Quinze meses depois, com a recusa do governo do Estado em pagar o preço estabelecido pela Justiça, muitos outros meses vão se passar até que as partes cheguem a um acordo.

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