quinta-feira, 24 de maio de 2012


   "Teresópolis é o quê?"

     Chegado o período eleitoral, os políticos elaboram plataformas com discursos exigindo a definição característica da nossa cidade. "Teresópolis é o que? Uma cidade turística, universitária, industrial?", já se perguntou mais de uma vez. É universitária e pode ser industrial, principalmente se buscarmos uma industrialização sustentável. Mas, quanto ao turismo não há o que duvidar.
     Base do turismo, da visitação, o hábito do veraneio no Brasil surgiu a partir dos primeiros anos de 1820, quando chegaram ao Rio de Janeiro após a abertura dos portos, em 1811, os estrangeiros que se estabeleceriam na Capital do País para os diversos tipos de negócios.
     A partir desta época, o inglês George March, que tinha arrendado a fazenda Paquequer em 1818, passou a receber amigos ingleses em sua propriedade, chamada “Fazenda Sant’Anna do Paquequer”.  Pouco depois, por volta de 1825, surgem as primeiras casas de Teresópolis, construídas por March para receber seus hóspedes, que já não cabiam mais na casa principal. Essas casas eram feitas à moda da terra, de pau a pique, barreadas a mão e cobertas de sapê. Embora simples, eram assoalhadas e forradas, com divisões internas obedecendo ao modelo das casas inglesas.
     Com a morte de March, em 1845, e o retalhamento de suas terras, nos anos 1850, a tradição do veraneio foi mantida na vila que a Serra dos Órgãos via surgir, aparecendo também os primeiros hotéis da freguesia de Santo Antônio de Teresópolis, criada em 1855, através do Decreto 829.
     E, junto com o veraneio, foram mantidos os princípios de receptivo inventados pelo inglês March, dando aos hotéis e pensões da cidade uma característica muito peculiar. Esses estabelecimentos não seriam como os demais, surgidos ao longo do Brasil nos primeiros anos do Brasil pós Dom João VI. Nossos hotéis tinham donos que recebiam seus clientes de forma parecida com a de March, vendo-os como hóspedes, amigos com quem criariam, inclusive, laços de camaradagem, revendo-os anualmente nos períodos de calor da Capital.
     Assim, surgiram o Hotel dos Órgãos, de Bebiano José da Silva; o Hotel Bessa, de Antero Bastos; o Várzea, do Sebastião Teixeira... E, ainda o Angelo, Lacerda, Flórida, Várzea, Phillipe, Califórnia, Teresópolis, Nevada, Central, Avenida, Comary, Residência... As pensões Serrana, Pomar, Aguiar, e tantas outras.
     Esse hábito de passar temporadas nos hotéis de Teresópolis só mudaria com a chegada da estrada de rodagem, em 1959. A “Estrada Direta” representaria, ao mesmo tempo, o progresso que a cidade pedia e a desventura de quem dependia dos veranistas, escasseados a partir de então e, a maioria, transformados em habitantes, com suas “casas de veraneio”, construídas com a mão de obra que formaria outro grupo de novos habitantes: os pedreiros, carpinteiros, construtores e serventes, fazendo surgir os bairros operários, na periferia dos nobres, para onde foram também gente de todo lugar que começou a se encantar com a cidade que via às margens do caminho em direção ao Rio de Janeiro, a partir de 1970, quando foi aberto o trecho Teresópolis-Além Paraíba da Estrada Rio-Bahia, decidindo aqui ficar.
     Teresópolis é assim. Encanta a todos e muda como um organismo vivo que precisa crescer sempre. E, também, desenvolver-se, quando os políticos permitem.

* Texto de Wanderley Peres, publicado no DIÁRIO. wpcultura@gmail.com

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